Os dois filhos presenciaram o crime/Reprodução
A técnica de enfermagem Priscila Carla Pimentel, de 32 anos, assassinada a facadas pelo ex-companheiro na frente dos filhos, havia reunido provas das ameaças que recebia em um pen drive. Ela procurou a polícia diversas vezes e tinha medida protetiva de urgência ativa desde 7 de julho de 2024. O feminicídio aconteceu na noite de terça-feira (9), no bairro de Cajueiro Seco, em Jaboatão dos Guararapes/PE, no Grande Recife.
José Robson Santos da Silva, de 34 anos, foi detido em flagrante e, na tarde desta quarta-feira (10), a Justiça decretou a prisão preventiva dele. Segundo a irmã da vítima, Paloma Lauriane Pimentel, Priscila deixou um “dossiê com tudo”, incluindo ameaças contra ela e as filhas.
“Antes de morrer, minha irmã deixou um pen drive com ele ameaçando as filhas, ameaçando ela. Minha irmã não foi para a delegacia sem nada, foi com tudo”, contou Paloma.
Sonho interrompido na véspera do emprego
Priscila havia se separado há cerca de seis meses, após 17 anos de relacionamento. A família alugou uma casa para ela recomeçar a vida com os seis filhos, cinco deles frutos do relacionamento com o agressor. Com formação em técnica de enfermagem, ela havia conquistado o primeiro emprego na área e começaria a trabalhar em janeiro de 2025.
“Ela ia começar a trabalhar agora com o sonho dela. A minha irmã conseguiu criar os filhos dela sozinha, sem a ajuda do pai. Conseguiu pagar o curso dela com muito esforço e tiraram tudo”, declarou a irmã.
Histórico de ameaças e agressões
De acordo com Paloma, a situação piorou depois da separação. A filha mais velha do casal, de 16 anos, ficou grávida e foi espancada pelo pai, gerando a primeira queixa na delegacia. A partir desse episódio, as ameaças se tornaram mais frequentes.
Uma das mensagens foi um áudio enviado dias antes do crime em que o homem chama a mulher de “desgraça” e debocha da denúncia que ela fez à polícia. Em outro episódio, José Robson abordou Priscila dentro de um carro de aplicativo com uma faca e a acompanhou até a Delegacia da Mulher.
“Ele entrou na delegacia com ela, ameaçando ela. Ele ameaçou ela na frente de delegado, escrivão, de todo mundo”, relembrou a irmã.
Crime na casa da filha adolescente
O feminicídio aconteceu na casa da filha de 16 anos, que mora ao lado da residência da mãe de José Robson. Priscila tinha ido ao local para pegar o dinheiro de uma rifa que a jovem estava organizando para alugar um vestido para a formatura do ABC da irmã mais nova.
Dois filhos presenciaram o crime: a adolescente de 16 anos e um garoto de 13 anos. De acordo com a família, quando a vítima estava saindo, o agressor apareceu e a esfaqueou. O filho ouviu os gritos e disse: “eu pensei que era só briga, como sempre tinha, de muro, mas, quando entrei, ele já estava esfaqueando a minha mãe”.
Medida protetiva descumprida
Priscila havia procurado a polícia anteriormente para denunciar o ex-companheiro. Uma medida protetiva de urgência, datada de 7 de julho de 2024, estava ativa, mas não foi suficiente para impedi-lo de cometer o feminicídio.
Em Pernambuco, foram concedidas 22.215 medidas protetivas de urgência em 2024. O estado registrou 69 casos de feminicídio no ano passado, ficando em segundo lugar entre os nove estados monitorados. Apenas no primeiro semestre de 2024, o Ligue 180 registrou aumento de 37,3% nas denúncias, totalizando 3.072 casos.
Seis crianças órfãs
O crime deixou seis crianças órfãs. A filha mais velha, de 16 anos, está grávida e perdeu a mãe semanas antes da chegada do bebê. Paloma destacou que a irmã criou os filhos sozinha, sem ajuda financeira do pai das crianças.
“Ele tirou tudo que a minha irmã tinha, tirou o sonho, tirou os filhos da minha irmã”, lamentou. José Robson foi encaminhado ao Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), no Cordeiro, Zona Oeste do Recife.
Como denunciar violência doméstica
As denúncias de violência contra mulher podem ser feitas pelos seguintes canais:
Ligue 180: Central de Atendimento à Mulher, disponível 24 horas.
Polícia 24 Horas

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