Ao todo, mais de 50 mil vítimas foram feitas pela quadrilha no Brasil e no exterior/Foto: G1
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) deflagrou, na quinta-feira (30), uma nova fase da operação que investiga um grupo criminoso suspeito de aplicar golpes financeiros em mais de 50 mil vítimas no Brasil e no exterior. Foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão contra os principais membros da organização, incluindo cinco indivíduos que se apresentavam como líderes religiosos.
Os suspeitos devem responder por estelionato, falsificação de documentos, falsidade ideológica, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Algumas vítimas sofreram prejuízos milionários, mas os criminosos também lucravam com pequenos investimentos feitos em grande volume.
A primeira fase da operação ocorreu em 2023. Nesta segunda etapa, as ações foram realizadas no Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Pará, Paraná, Santa Catarina e São Paulo.
Segundo a PCDF, o golpe consiste na conversa enganosa através de redes sociais (Youtube, Telegram, Instagram, Whatsapp, etc.), abusando da fé alheia, para convencer as vítimas, em sua grande maioria evangélicas, a investirem suas economias em falsas operações financeiras ou falsos projetos de ações humanitárias, com promessa de retorno financeiro imediato e rentabilidade estratosférica.
"Assim, por exemplo, somente com um depósito (“aporte”) de R$25,00 (vinte e cinco reais), as pessoas poderiam receber de volta nas “operações” (falso investimento) o valor de “um octilhão de reais”, ou mesmo investir R$2.000,00 (dois mil reais) para ganhar “350 bilhões de centilhões de euros”", diz a nota.
Esquema nas igrejas e redes sociais
De acordo com a PCDF, a quadrilha era composta por cerca de 200 integrantes, incluindo dezenas de pastores. O golpe ocorria dentro das igrejas, durante cultos, e também nas redes sociais. Os fiéis eram convencidos a investir suas economias em falsas operações financeiras ou supostos projetos humanitários que, na realidade, não existiam.
O grupo utilizava uma teoria da conspiração chamada "Nesara Gesara", prometendo retornos financeiros astronômicos, chegando ao absurdo de "um octilhão" de reais e 350 bilhões de centilhões de euros.
A PCDF estima que o grupo movimentou R$ 156 milhões em cinco anos, além de criar 40 empresas fantasmas e abrir mais de 800 contas bancárias suspeitas.
O que é "Nesara Gesara"?
A teoria da conspiração usada no golpe teve origem nos Estados Unidos, nos anos 1990, a partir de uma tese de doutorado de Harvey Francis Barnard. Ele propôs um pacote de reformas econômicas chamado National Economic Security and Recovery Act (Nesara), que previa abolição de impostos, perdão de dívidas e uma reformulação radical do sistema monetário.
Nos anos 2000, a ideia foi distorcida e transformada em uma teoria conspiratória pela blogueira Shaini Goodwin. Ela afirmava, sem provas, que o ex-presidente Bill Clinton teria aprovado a proposta e que os ataques de 11 de setembro de 2001 foram uma manobra de George W. Bush para impedir sua implementação.
A teoria, sem qualquer embasamento real, tem sido usada em golpes financeiros ao redor do mundo, enganando pessoas com promessas de riqueza rápida e fácil.
Nota da PCDF
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), por intermédio da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (DRACO/DECOR), deflagrou, na manhã desta quinta-feira (30), a terceira fase da Operação “FALSO PROFETA”, com objetivo de combater organização criminosa especializada na prática de Estelionatos por meio de redes sociais (Fraude Eletrônica), induzindo as vítimas a investirem quantias em dinheiro com a promessa de recebimento futuro de quantias milionárias. Na ação de hoje, foram cumpridos 16 Mandados de Busca e Apreensão (MBAs) no DF e em outros seis estados - Goiás, Minas Gerais, Pará, Paraná, Santa Catarina e São Paulo. Até o momento, foram apreendidos diversos documentos, eletrônicos (celulares, computadores, etc.), papéis-moedas fictícios usados para enganar as vítimas, falsos títulos financeiros e falsos contratos. Também são cumpridas medidas cautelares de bloqueio de valores, bloqueio de redes sociais e decisão judicial de proibição de utilização de redes sociais e mídias digitais. Não houve prisões.
A FRAUDE O golpe consiste na conversa enganosa através de redes sociais (Youtube, Telegram, Instagram, Whatsapp, etc.), abusando da fé alheia, da crença religiosa e de uma teoria conspiratória apelidada de “Nesara Gesara”, para convencer as vítimas, em sua grande maioria evangélicas, a investirem suas economias em falsas operações financeiras ou falsos projetos de ações humanitárias, com promessa de retorno financeiro imediato e rentabilidade estratosférica. Assim, por exemplo, somente com um depósito (“aporte”) de R$25,00 (vinte e cinco reais), as pessoas poderiam receber de volta nas “operações” (falso investimento) o valor de “um octilhão de reais”, ou mesmo investir R$2.000,00 (dois mil reais) para ganhar “350 bilhões de centilhões de euros”.
A investigação aponta que os suspeitos formam uma rede criminosa organizada, estruturalmente ordenada, hierarquizada e caracterizada pela divisão de tarefas, responsável pelo cometimento de diversos outros crimes como Falsidade Ideológica, Lavagem de Dinheiro e Sonegação Fiscal, com o fim de obter vantagem econômica em prejuízo de milhares de vítimas no Brasil e no exterior. O golpe pode ser considerado um dos maiores já investigados no Brasil, uma vez que foram constatadas, como vítimas, pessoas de diversas camadas sociais e localizadas em quase todas as unidades da federação, estimando-se mais de 50.000 (cinquenta mil) vítimas.
De acordo com a investigação, iniciada há mais de dois anos, o grupo é composto por cerca de 200 integrantes, incluindo dezenas de lideranças evangélicas intitulados (falsos) pastores, que induzem e mantêm em erro as vítimas (fiéis) para acreditar no discurso de que são pessoas escolhidas por Deus para receber a “Benção” (dinheiro). Na operação de hoje, cinco líderes religiosos também foram alvos, além de advogado(s) e digital influencers. Como instrumento da fraude, os investigados também constituem pessoas jurídicas “fantasmas” e de fachada, simulando ser instituições financeiras digitais (falsos bancos), com alto capital social declarado, através das quais as vítimas supostamente irão receber suas fortunas. E, para dar aparência de veracidade e legalidade às operações financeiras, os investigados ainda celebram contratos com as vítimas, ideologicamente falsos, com promessas de liberação de quantias surreais provenientes de inexistentes títulos de investimento.
IG
Nenhum comentário:
Postar um comentário