NANISMO, DROGAS E RELIGIÃO: A VIDA DE NELSON NED, UM DOS CANTORES BRASILEIROS MAIS POPULARES DO EXTERIOR (GN - MÚSUCA)


Nelson Ned canta para 80 mil pessoas em Bogotá/Acervo Pessoal/Monalisa Ned/Reprodução



A entrevista durou quarenta minutos e ocorreu no município de Cotia, a 34 quilômetros da capital paulista. De um lado, estava o jornalista André Barcinski. Do outro, o cantor Nelson Ned.



"Demorei um tempão para localizá-lo", relata Barcinski à BBC News Brasil.

"Na época, era difícil achar o Nelson. O cara andava sumido, muita gente achava que já tinha morrido. Marcamos a conversa num sítio, que eu pensava ser dele, pois todo mundo me dizia que seus álbuns tinham vendido um absurdo. Depois, soube que estava vivendo às custas da família."

Era dezembro de 2012, e quatro anos haviam se passado desde que o cantor abandonara os palcos em caráter definitivo.

Praticamente cego e locomovendo-se numa cadeira de rodas, ele expressaria ao jornalista o desejo de ser lembrado como um homem romântico, intenso e amoroso.

Foi a última entrevista de sua vida.

"O Nelson já não tinha muita capacidade de concentração", afirma Barcinski.

"Aos poucos, ele foi se esquecendo das coisas, dizendo frases desconexas, e a gente encerrou nossa conversa. Uma irmã já havia me avisado que ele vinha sofrendo com problemas neurológicos."

Tamanha vulnerabilidade não condizia com as memórias que o jornalista carregava desde os anos 1970.

"A exemplo de todo mundo que foi criança na época, lembro do Nelson graças aos programas de auditório. Era uma presença visualmente impactante, aquela voz enorme saindo de um corpo tão pequeno. Ele se tornou famoso num tempo em que pessoas com nanismo tinham uma vida de clausura, escondidas pelos pais."

As filhas do cantor, que também têm nanismo, falaram com a reportagem.

"Lá em casa sempre tinha um monte de artista", lembra a atriz Verônica Ned.

"Eu aprendi a nadar com o Chacrinha, e nossa faxineira era apaixonada pelo Raul Gil. Para a gente, isso tudo era muito natural."

Numa viagem a Miami, Verônica e a irmã perceberiam que o pai era um astro.

"O povo não deixava a gente andar", recorda-se a fonoaudióloga Monalisa Ned.

"Os latinos da cidade gritavam, em espanhol, 'saca una foto!'. Quando entramos no hotel, as camareiras enlouqueceram, apertando nosso rosto, dando uns tapas brutos, chamando a gente de 'Ned’s babies'. E meu pai dava risada, dizendo que era famoso pra caramba."

Até meados da década de 1980, Nelson Ned foi um dos cantores brasileiros mais populares do planeta, abarrotando qualquer estádio ou aeroporto em que pusesse os pés.

Singles de sua autoria eram uma presença constante nas paradas do continente americano, da Península Ibérica e da África lusófona. Ignorado pelas novas gerações, ele figura ainda hoje entre os maiores vendedores de discos na história do mercado fonográfico nacional.

Passados onze anos do fatídico encontro em Cotia, Barcinski publicou em novembro do ano passado o livro Tudo Passará – A Vida de Nelson Ned, o Pequeno Gigante da Canção (Companhia das Letras).

"Esse cara é tudo que um biógrafo pode querer. Sempre foi uma pessoa de extremos — o extremo da riqueza e da penúria, o extremo da libertinagem e da caretice, um sujeito capaz de amar e odiar com o mesmo fervor. Acho um personagem incrível, daqueles casos mais estranhos que a ficção", diz o jornalista.

Confira a matéria completa AQUI.

Por: BBC Brasil

 

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