A secretária ficou extremamente desconfortável com um vídeo veiculado pela CNN e acusou a emissora de estar "desenterrar mortos"/Reprodução CNN Brasil
A secretária especial de Cultura, Regina Duarte, relativizou as mortes ocorridas no período da Ditadura Militar no Brasil, durante uma entrevista muito conturbada à emissora CNN, na tarde desta quinta-feira (7). Regina se revoltou com um vídeo gravado da atriz Maitê Proença, na qual fazia críticas à atuação dela em frente à pasta, e encerrou a entrevista.
A fala de Regina relativizando as mortes na Ditadura ocorreu ao responder uma pergunta se havia contradição no apoio dela ao governo de Jair Bolsonaro, após o presidente já ter defendido publicamente figuras históricas do período militar.
“Cara, desculpa, eu vou te falar uma coisa assim: a humanidade não para de morrer. Se você falar ‘vida’ do outro lado tem ‘morte’. Sempre houve tortura, (Joseph) Stalin, quantas mortes? (Adolf) Hitler, quantas mortes? Não quero arrastar um cemitério nas minhas costas”, afirmou ela.
Regina repercutia uma crítica do ator Paulo Betti, que classificou como uma “perda muito grande” para a carreira profissional dela a ida às fileiras do governo Bolsonaro.
“Acho essa coisa de esquerda e direita tão abaixo do patamar da Cultura. Apoio o governo porque acho que ele era e continua sendo o melhor. Se olhar pro retrovisor, vou dar trombada. Vamos olhar pra frente, ser construtivo e amar o país. Ficar cobrando coisas que aconteceram nos anos 60, 70, 80? Vamos embora pra frente? Pra frente Brasil...”, e começou a cantar a música que embalou a campanha da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1970.
CRÍTICA E ABANDONO DA ENTREVISTA
O momento mais tenso se deu quando os apresentadores do CNN 360º, Reinaldo Gottino e Daniela Lima, pediram que a secretária ouvisse uma mensagem de apelo da colega Maitê Proença gravada nesta quinta. Regina se revoltou com a chamada, que classificou como “desenterrar mortos” e se recusou a continuar a entrevista.
Enquanto a CNN transmitia a mensagem da Maitê em vídeo, o áudio de Regina foi cortado, mas era possível vê-la gesticulando e tirando o ponto eletrônico. “Desculpa, isso não estava na nossa entrevista. Não foi combinado nada disso. Eu achei que era uma entrevista com você Daniel, como assim entrar pessoas, desenterrar mortos, pelo amor de Deus”, finalizou ela, após ter o áudio retomado.
Antes da polêmica, a atriz justificou a falta de manifestação do governo sobre as mortes de Rubem Fonseca, Garcia-Roza, Moraes Moreira, Flávio Migliaccio e Aldir Blanc alegando que a Secretaria de Cultura não funciona como um obituário.
“Desde a primeira morte me cobraram uma divulgação (de nota de pesar) por parte da secretaria desses óbitos. Optei por mandar uma mensagem como secretária às famílias das pessoas que pederam os entes. Será que a secretaria virou um obituário?”.
SAÍDA DE MORO E RACHA COM ‘OLAVISTAS’
A secretária também já havia comentado assuntos como a demissão do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, e as críticas das alas olavistas à sua nomeação para a pasta da Cultura.
Regina evitou responder em que acreditava na troca de acusações entre Moro e Bolsonaro. O ex-ministro diz que Bolsonaro tentou interferir politicamente na PF (Polícia Federal), enquanto o presidente nega a tentativa.
“Fiquei profundamente triste com a saída do Moro. Por ele, pelo presidente Bolsonaro, pelo povo brasileiro. Tenho na minha sala uma foto dos dois, rindo um para outro. Eu não quis acompanhar (essa troca de acusações), fiquei tão traumatizada e nem quero chegar perto dessa história. Os dois devem estar cobertas de razões para as coisas terem ocorrido dessa maneira”.
A respeito das críticas dos seguidores de Olavo de Carvalho, guru ideológico de parte dos bolsonaristas, Regina afirmou que a única resistência que sente é “a da burocracia”.
“Não sinto resistência (por parte dos olavistas). Se existe, não chega até mim. Li dois livros dele (Olavo de Carvalho) e no terceiro achei que ele falava muito palavrão e parei de ler. Ele tem uma história importante, é um intelectual brasileiro e que muita gente respeita. Sinto resistência é da burocracia (para nomeações)”, afirmou ela.
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