Foto: MPE/AL
A terra do Pioneiro vive, desde o mês de março, um turbilhão de incertezas quando o assunto é política e os fatores de uma possível cassação do gestor Eraldo Joaquim Cordeiro (PSD), a quem muitos o chama de Padre Eraldo, pelo trabalho desenvolvido ao longo de vários anos na igreja católica.
O então candidato a prefeito, quase fica inelegível no pleito de 2016, mas conseguiu vencer o processo no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e candidatar-se. Naquele ano, era tido como a ‘esperança’ do povo. Com a candidatura nas ruas, Eraldo une-se a Gabriel Varjão (DC), um jovem da região do Distrito de Barragem Leste, para conquistar e decretar a vitória nas urnas.
Tiveram como principal oponente o então deputado federal Givaldo Carimbão (PHS). A campanha foi marcada por ataques entre os dois candidatos que, nos programas de rádio, debates e até nos comícios, não pouparam críticas ferrenhas e troca de farpas.
O padre vence o pleito com mais de quatro mil votos de diferença e o desejo de mudança ecoava pelos quatro cantos da cidade. O mandato se inicia em 01 de janeiro de 2017 e com ele, dois caminhos, o céu ou o purgatório. E o mesmo foi se desenhando ao longo do tempo.
Ainda em 2017, uma briga entre o então secretário Finanças, Raul Santos e o vereador Cacau Correia, esquentou os bastidores da gestão. “Eduardo Cunha do Sertão não tem vez. Não vai ter golpe”, bradou o agente político de Padre Eraldo. Era o início dos entraves, aqueles que o povo só tem conhecimento quando tudo está chegando à beira do ralo.
O prefeito não acertou os secretários, no início. Na Saúde, perde-se nos dedos a quantidade de pessoas que estiveram à frente de uma das mais importantes pastas do município. Na Assistência Social, o povo clamava por coisas básicas e que, como marinheiros de primeira viagem, a equipe não conseguia engrenar a catraca.
No dia 1º de setembro, com a folha repleta de servidores, o prefeito exonera todos os contratados da folha. Na época, a resposta para o feito, seria um reordenamento na estrutura da gestão.
Eraldo Joaquim Cordeiro, durante o primeiro ano da gestão, bateu com frequência no ex-gestor do município, Luiz Carlos Costa, o Lula Cabeleira. Esse que, no desenrolar das coisas, assiste de camarote o oponente ‘sangrar’ até o fim da investigação, afinal de contas, 2020 é bem ali e tudo pode mudar num piscar de olhos. Em entrevista ao blog do jornalista Emerson Emídio, no final do primeiro ano do mandato, padre Eraldo disse que “2017 era um ano para ser esquecido”.
Virou a folha e o ano, mas os problemas continuaram. O gestor utiliza o termo ‘gargalo’, que dá conotação de entrave, na maioria dos discursos. E o que pode tirar o trunfo da gestão são os contratos de locação de veículos. Eraldo não esperava que o primeiro diretor do transporte da Educação, tivesse a coragem de abrir o jogo nas oitivas do Ministério Público Estadual (MPE). E por falar nele, daqui a pouco, ele dar o ar da graça.
Rompimentos
Com o então deputado estadual Ronaldo Medeiros (MDB) e o vice, Gabriel Varjão, levaram o gestor a marchar com Francisco Tenório (PMN) e Marx Beltrão (PSD), nas eleições para deputado estadual e federal. Naquele momento, Eraldo saiu vitorioso com os candidatos eleitos.
Depois disso e com a famigerada novela da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ecoando a nível estadual, o padre resolveu arregaçar as mangas e fazer valer o voto dos mais de 14 mil eleitores de Delmiro Gouveia.
Porém, como diz um ditado popular, o passado não apaga o presente, nem muda o futuro. Eraldo tinha pela frente o maior pesadelo da gestão dele – Investigações no MPE.
Elas foram instaladas, silenciosamente, em 2018, e davam conta de supostos desvios em contratos com empresas de locação de veículos. A bomba explodiu em 15 de março deste ano, quando o procurador-geral do órgão, Alfredo Gaspar, veio a sede da prefeitura e de outras Secretarias para colher documentos e contrastar dados.
Em entrevista à imprensa, o procurador disse que a suspeita é de desvios na casa de R$ 20 milhões de reais. O cumprimento de mandado ocorreu um dia após à Câmara Municipal rejeitar a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que tinha como proposta, investigar o prefeito padre Eraldo. Votaram contra – Pedro Paulo (PT), Geraldo Xavier (PSD), Henriqueta Cardeal (DEM) , Fabíola Marques (PSL) , Raimundo Valter (Casagrande) (PPS) e Ezequiel de Carvalho (Kel) (PSB).
Vale ressaltar que à Casa Legislativa também investiga o gestor por supostas irregularidades cometidas na gestão e que foram protocoladas através de moradores do município. No mês de agosto, o primeiro parecer foi lido e rejeitado por 6 votos contrários e 5 favoráveis. Agora, com o retorno de Júnior Lisboa e Marcos Costa, ambos do MDB à base do prefeito, na Câmara, os outros três pareceres tendem a ser rejeitados, se os mesmos solicitarem à cassação do gestor.
Xeque-mate?
No próximo dia 15, fazem 180 dias (seis meses) da investigação do MPE. De acordo com motoristas que participaram das oitivas, interrogatórios, realizados pelo órgão, o nome de alguns ex’s e secretários, além de vereadores foram questionados. Os depoentes não quiseram revelar o nome por conta de que as investigações correm em segredo de Justiça.
Outra fonte também informou que uma pessoa passou mal nas oitivas e precisou ser amparada pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). No site do Tribunal de Justiça, os processos que constam como dano ao erário, contra o prefeito de Delmiro Gouveia, estão no status e conclusos, ou seja, aguardando a sentença do juiz, que não tem dia, muito menos hora para ocorrer.
Esse xeque-mate (decisão do órgão aguardada por situação e oposição), pode mudar toda a configuração política do município, inclusive para as Eleições de 2020.
Nos senadinhos, tanto da capital, tanto do interior, a notícia que se comenta é que existe uma enorme pressão, da parte externa no MPE sobre investigações em vários municípios, inclusive os do Sertão. Informações extraoficiais dão conta que Alfredo Gaspar vai disputar o cargo da prefeitura de Maceió, com apoio do Palácio, em 2020.
E numa espécie de faz por mim que eu te ajudarei, os processos estão sendo levados ao banho Maria, com alfazema e incenso. O que vai definir essa parte da novela, são os próximos capítulos.
Voltando à terra do Pioneiro, o destino de padre Eraldo está nas mãos dos homens de Maceió. Cabe a eles decidir se o caminho trilhado desde de 2017, levará o gestor ao céu, com um possível desejo de reeleição, ou ao purgatório, com a condenação de improbidade administrativa, perda do mandato do gestor e até de vereadores.
Se absolvido, Eraldo pode resignar-se com o povo que o elegeu e continuar o trabalho que tem feito de alguns meses para cá. Se condenado, vai deixar nos autos da história da cidade um misto de sentimentos – heroísmo e petulância. Um salva e o outro destrói.
Radar Notícias
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