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Eu já comentei nesta coluna que a Bahia tem o segundo maior público da Globo no Brasil, só perdendo para os catarinenses de Florianópolis. Mesmo assim, a audiência da emissora também está caindo entre os fiéis baianos. Em outros Estados, como São Paulo, a emissora já perdeu mais de um quarto das TVs ligadas na última década.
Além de perder público para outras emissoras, também está sendo afetada negativamente pela TV paga (embora seja dona de pelo menos 50 canais - isso mesmo - nesse meio), pela internet, pelos games e, mais recentemente, pela Netflix. Quando eu era garoto, costumava-se dizer que a Globo mandava no país.
Hoje sabemos que isso não era maledicência. Hoje é pública e notória a relação promíscua que a emissora manteve por décadas com a ditadura militar: em troca de apoio explícito, militares ajudaram a Globo a construir a primeira e maior rede de TV do país (com uma boa mãozinha da Embratel). Até a Globo admitiu e se desculpou recentemente por esse apoio aos militares. Ok, embora agora seja meio tarde demais para desculpas.
O que me chama a atenção é que essa onda de "sinceridade" da TV Globo nos últimos anos, curiosamente, coincide com o seu período de perda de audiência. 2015, por exemplo, vai entrar para a história da emissora como o ano em que ela contabilizou as piores derrotas já sofridas para a Record e para o SBT.
Derrotas tão doloridas que a fizeram alterar sua antes imaculada grade de programação em horário nobre por causa da novela Os Dez Mandamentos (sem sucesso, aliás); e ser obrigada a tirar (mais) um programa do ar, Tomara que Caia, por causa das derrotas sequenciais para o octagenário Silvio Santos aos domingos à noite.
Até a Band, com o MasterChef de Ana Paula Padrão, andou beliscando o traseiro da "Vênus Platinada". Falando nisso, o símbolo cai bem: a Globo parece estar perdendo os braços, como a estátua da deusa grega que está exposta no Louvre. Eu cubro televisão há exatos 20 anos. Quando troquei a cobertura política e comecei nesta área, em 1996, a Globo tinha programas que davam 60 pontos de ibope. Novela sua que não desse 50 pontos de média era considerada um fracasso.
Audiência: O Fantástico chegava a ter audiência de 70% das TVs ligadas no país. Nenhuma emissora investia no horário das 20h porque o Jornal Nacional condenaria o programa rival ao traço de audiência. Isso acabou, e talvez nunca mais ocorrerá novamente. E a culpa é da própria Globo. Nos últimos dez anos, pelo menos, a emissora perdeu a ligação que tinha com a realidade do país, os telespectadores, e cada vez mais perde sua fidelidade e, por que não dizer, seu amor. A Globo perdeu o rumo em quase todas as áreas.
O JN virou um jornalão sem sal e sem furos jornalísticos. As novelas viraram um eterno clichê (por que raios há tantos bebês trocados, porque todo rico é sempre vilão e todo pobre é bom caráter? Isso me cheira a maniqueísmo que nem a emissora acredita. Programas de sucesso no passado hoje viraram micos, e só não saem do ar porque não há nada para substitui-los: Domingão? Video Show? Esporte Espetacular? O horror, o horror... Tenho de esclarecer que toda essa análise acima é algo que só nós, jornalistas da área, e alguns espectadores mais atentos percebem com clareza.
Porque agências de publicidade e anunciantes ainda são totalmente fieis à emissora. Em números: dos R$ 40 bilhões gastos no Brasil em publicidade em 2014, o Grupo Globo inteiro (incluindo afiliadas, rádios, publicações, canais pagos, etc) ficou com quase metade. Eis um verdadeiro mistério que desafia todas as teorias econômicas: enquanto o público e ibope da emissora caem, seu faturamento sobe. Eis o milagre bíblico da Globo, mais difícil de entender que a abertura do Mar Vermelho por Moisés.
Por: ATarde
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