Com a despedida de nossos mestres, a arte nacional enfrenta um futuro de incertezas e lacunas irrecuperáveis/Foto: TV Globo/Estevam Avellar
A morte de Ney Latorraca, um ator veterano que dedicou décadas de sua vida à dramaturgia brasileira, é mais um sinal de alerta para um problema que se agrava a cada ano: estamos perdendo uma geração insubstituível de artistas sem vislumbrar herdeiros à altura.
Torraca, assim como tantos outros gigantes da nossa televisão e teatro, não apenas atuou; ele abriu caminhos, moldou personagens e ajudou a definir o que conhecemos como dramaturgia nacional. Cada vez que um nome como o dele nos deixa, o vazio que permanece é cada vez mais difícil de ignorar.
A geração de Tarcísio Meira, Ney Latorraca, Eva Wilma, Raul Cortez, Paulo Goulart e Nicette Bruno não surgiu por acaso. Foram artistas formados com rigor técnico e imensa entrega, preparados em um tempo em que a arte não era vista como atalho para a fama, mas como vocação e ofício sob duros preconceitos. Eles enfrentaram desafios, muitas vezes sem as facilidades que os jovens atores têm hoje. No entanto, conseguiram entregar atuações que transcenderam o tempo e ficaram eternizadas na memória cultural do país. O problema agora é claro: o que será de nossa dramaturgia quando esses mestres se forem por completo?
A nova geração de atores, com exceções honrosas, está mais preocupada em acumular seguidores do que em conquistar papéis memoráveis. Influenciadores e celebridades instantâneas são escalados para papéis de destaque, mas frequentemente entregam atuações medíocres, incapazes de provocar a profundidade emocional que os grandes veteranos nos ensinaram a esperar. É um mercado onde métricas de engajamento online valem mais que talento e formação artística. Em um cenário assim, a arte é a principal vítima, e o público, cúmplice involuntário.
Além disso, a falta de investimento sério na formação de novos talentos é alarmante. Onde estão os grandes cursos, os mestres formadores, os diretores capazes de esculpir novos gigantes da atuação? Muitos dos professores que moldaram nossos maiores atores também estão partindo, e com eles, a metodologia, o rigor e o respeito pelo ofício. O resultado é um ciclo de mediocridade, onde os jovens não têm a quem se espelhar, nem a quem recorrer para um treinamento consistente.
O futuro da dramaturgia brasileira é um abismo de incertezas. Sem uma geração capacitada para dar continuidade ao legado dos veteranos, corremos o risco de transformar o que antes era arte em mero entretenimento descartável. O vazio deixado por Ney Latorraca é o mesmo vazio que se repetirá quando os poucos gigantes que restam também partirem. A questão é: quem está sendo preparado para preencher esse espaço?
Será que a televisão brasileira, hoje pautada pelo imediatismo e pelas métricas digitais, está capacitando uma geração que possa representar esses mestres à altura? Ou estamos testemunhando também o desaparecimento dos grandes professores e treinadores que fizeram a diferença? Sem eles, o ciclo se fecha, e um futuro de mediocridade se desenha no horizonte. Fica a reflexão: queremos mesmo perder para sempre o brilho que esses gigantes trouxeram à dramaturgia brasileira?
Por: Coluna de Lo-Bianco (IG)
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