POLÊMICA - PADRE ZOMBA DE ISOLAMENTO SOCIAL, USO DE MÁSCARAS E ÁLCOOL EM GEL (VEJA VÍDEO/GN - BRASIL)

Religioso negacionista é polêmico e dá a entender que vai desobedecer autoridades, caso missas presenciais continuem suspensas/Reprodução



No momento mais grave da pandemia de Covid-19 no Brasil, com mais de 3 mil mortes diárias e falta de leitos hospitalares em todo o país, o padre Luiz Carlos Lodi da Cruz, de Anápolis, a 55 quilômetros de Goiânia, aparece em um vídeo negando e ironizando os protocolos contra o contágio do novo coronavírus.


No vídeo de 54 minutos, divulgado no último domingo (21/3), no canal Centro Dom Bosco, no Youtube, e denunciado pelo perfil BCovidfest, o religioso critica a suspensão das missas presenciais, com base na própria opinião e nas regras da instituição católica, além de ironizar o uso de máscaras, álcool gel e o isolamento social.

De acordo com o padre negacionista, no primeiro ano de pandemia, “obedeceu” as regras, mas agora, “com a cabeça mais tranquila”, revela que pensa: “será que eu deveria ter obedecido? Agora vejo que errei por excesso”.

“Hoje, se eu recebesse a ordem de ser proibido de celebrar a eucaristia para o público, e proibido de dar a comunhão, eu agora, com a cabeça tranquila, depois de ter pensado, agora eu, sem escrúpulos de consciência, não obedeceria. Continuaria a celebrar missa em público”, declara, incentivando outros padres a fazer o mesmo.

“Digo para os padres de todo o país: se você sente essa angústia, fique tranquilo. Se você não falar mal do seu bispo, não incitar o povo contra seu bispo, mas continuar celebrando para os fiéis em público, não está pecando e nem ofendendo a deus”, completa Cruz.

Em outro trecho do vídeo, o religioso debocha daqueles que se preocupam em manter o isolamento social e os hábitos de proteção e higiene contra o vírus.

“O que me assusta não é o vírus e nem a epidemia, não é a pior, nem é a única. Já houve muitas outras bem piores do que essa. O que me assusta é o pavor que essa epidemia está gerando. O desejo de ficar com máscara o tempo todo. ‘Ahh, máscara, socorro. Se eu não usar máscara vou morrer”.

Ele também ironiza a higienização das mãos com álcool em gel, apontado por especialistas como eficaz no combate ao vírus:

“[O desejo] De ficar esfregando a mão com álcool toda hora, colocando os pés em água sanitária, de ficar dentro de casa porque tem medo de, se sair, contaminar o ar com vírus… Gente, que coisa absurda. Não há ar mais puro do que aquele que você respira sem máscara”.

O religioso ainda incentivou as pessoas a quebrarem o isolamento social:

“Ah, sair de casa para pegar um sol. É uma coisa sadia. Estar no convívio dos outros, faz com que você refresque sua mente, porque você não consegue viver isolado para frente. Isso faz você endoidar”, declara.

Nesta quarta-feira (24/3), o padre Cristovam Iubel, de Guarapuava (PR), rebateu em vídeo as declarações do religioso de Anápolis. “Se a sociedade toda está fazendo esforço para vencer a Covid-19, por que nós não o fazemos?”.

Apoio

Nos comentários da publicação do canal Dom Bosco, fieis reforçam o comportamento negacionista do padre. “Nem prefeito, nem governador, nem qualquer outra autoridade civil interfere na autoridade religiosa”, “único medo que tenho é morrer sem os sacramentos, “esses prefeitos e governadores estão se colocando acima de Deus. Querem acabar com a fé, Deus está vendo tudo isso”, estão entre as manifestações favoráveis à fala de Cruz.

Condenação

O padre Luiz Carlos Lodi foi condenado de forma definitiva, em setembro de 2020, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a pagar R$ 398 mil de indenização por danos morais ao casal Tatielle Gomes e José Ricardo Dias. O religioso impediu que eles realizassem um aborto permitido por lei há 15 anos. A ação levou 12 anos para ser concluída.

Na época, Tatielle tinha 19 anos e, com cinco meses de gestação, um ultrassom de rotina revelou que o feto tinha a síndrome de body stalk. A doença rara faz com que os órgãos do feto fiquem do lado de fora do corpo, tornando a vida fora do útero inviável.

Com a confirmação do diagnóstico, o casal de Morrinhos, no interior de Goiás, foi orientado a buscar a Justiça e pedir autorização para a interrupção da gestação. O processo demorou quase um mês, causando ainda mais sofrimento para a família.

No entanto, já durante o procedimento, os médicos informaram a Tatielle que teriam de parar porque havia chegado um habeas corpus – uma ordem judicial preventiva – ordenando que a intervenção fosse interrompida. O autor do pedido era o padre Luiz Carlos Lodi da Cruz. A jovem foi mandada de volta para casa, onde ficou com dor e sangramento até conseguir resolver o caso e fazer o aborto, ainda em 2005.

O Metrópoles não conseguiu contato com o religioso e nem com a Diocese de Anápolis até o fechamento deste texto.

Conflito

Em Goiás, vários templos religiosos foram flagrados promovendo aglomerações, contrariando as medidas restritivas implantas na tentativa de conter o avanço da Covid-19.

Atualmente, as atividades religiosas coletivas estão suspensas em todo o Estado, no entanto, mesmo quando estavam liberadas, ocorriam em desacordo com a capacidade permitida. Por determinação da Justiça e do Governo de Goiás, apenas os atendimentos individuais estão preservados.

Na capital goiana, igrejas e templos religiosos foram classificados como atividade essencial pelo prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Republicanos), e também pela Câmara de Vereadores. A polêmica se deu pelo fato de que o gestor municipal também é pastor licenciado da Igreja Universal.

Em postagens nas redes sociais, figuras ligadas à igreja se manifestaram sobre o assunto. Um deles, foi o padre Luiz Augusto Ferreira da Silva, que faz campanha on-line, com o slogan: “Católico não vive sem missa, sem o corpo e sangue de Jesus”.

Luiz Augusto é pároco na Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus, em Aparecida de Goiânia. Ele lançou até uma petição para que os religiosos assinem e se manifestem contrários à proibição das celebrações. Em vídeo publicado no Facebook, o padre defende eventos nas igrejas mesmo durante a pandemia.

Outro que fez a defesa recente de atividades presenciais em templos religiosos foi o deputado federal Francisco Júnior (PSD-GO). Ele é católico fervoroso e tem entre esse público o seu principal eleitorado.



METROPOLES

 

Um comentário:

J. Cícero Alves disse...

Totalmente absurda essas declarações e postura do padre de Anapólis, citado na matéria, que ao debochar dos que cumprem os protocolos sanitários para evitar o contágio, parece zombar do desespero de milhões de infectados em todo o país que lutam por um leito de UTI, e desdenhando da dor das milhares de famílias que perderam entes queridos vítimas do coronavírus, registrando-se até até aqui mais de 307 mil óbitos por Covid-19, com 3,6 mil desas mortes tendo ocorrido nas últimas 24 hora.

Essa postura deplorável do referido padre não é a atitude esperada de um verdadeiro cristão, que em momentos de grave crise sanitária como essa que passamos, ao invés de debochar dos que "tem medo de se sair de casa e se contaminar com o vírus", deveria - como padre que diz ser - orar por eles, pelas famílias, pelos que morreram, por todos nós.

Atitudes absurdas como essa do padre de Anápolis são totalmente inconcebíveis no seio de uma igreja cujo Deus é fonte inesgotável de amor, esperança e fé !!