ALAGOAS REGISTRA MAIS DE 2,3 MIL AGRESSÕES A MULHERES (GN - AL)

Números apontam que no período de seis meses quadro de 2017 já supera o semestre do ano passado/Foto: Heliana Gonçalves


Há duas semanas, repercutiu em todo o Brasil a agressão que a advogada Karine Brandão sofreu pelo seu ex-namorado Marcos Antônio Pedrosa Malta Filho em um bar na orla de Maceió. Tudo foi filmado pelas câmeras do estabelecimento e o agressor encontra-se solto após pagar fiança no valor de R$ 10 mil. O caso de Karine soma-se a realidade vivida por milhares de mulheres em Alagoas. De janeiro a junho deste ano, 2.314 mulheres foram agredidas no estado. O número deste semestre já supera o do ano passado. O quadro de 2017 é bem maior, visto que ainda não foram computadas as vítimas que registram agressões no mês de julho.


Conforme dados da Secretara de Segurança Pública de Alagoas (SSP), no primeiro semestre de 2016 foram registrados 2.025 casos de agressões e neste mesmo período de 2017 já são 2.314 notificações, um aumento de cerca de 20% no espaço de tempo de apenas um ano. 

Em Alagoas, a cidade de Maceió também registrou um aumento no registro de ocorrências neste intervalo de tempo. Entre os meses de janeiro a junho de 2016, foram contabilizados 1079 denúncias e neste ano já se observam 1.225. Apesar do trabalho que é feito pelas entidades que ofertam ajuda às vítimas, as mulheres ainda se queixam de preconceito e da falta de apoio. 

De acordo com a advogada, a narrativa pregada por movimentos feministas, secretarias e ONGs de que a vítima deve procurar as autoridades e que vai encontrar uma dede de apoio  não é bem assim. 

"Procurei ajuda, não encontrei e agora estou presa em casa. Viu só? Quem deveria estar preso respondendo ao processo era ele. Eu não saio de casa com receio de ser vítima novamente. Só quem já apanhou sabe o tamanho da dor que estou sentindo. Não me arrependo de ter buscado a Justiça. Mas esse discurso bonito de que a rede pró-mulher existe não é bem assim como apontam. Após a soltura dele, temo pela minha vida e dos meus filhos", expressou a advogada em recente entrevista ao portal Gazetaweb. 

A presidente da Comissão da Mulher da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Alagoas, Eloina Braz, referendou a crítica da colegada advogada sobre os problemas estruturais na rede que deveria acolher a mulher agredida. Braz apontou ainda que o aumento no registro de caso se dá, também, pelo fato de muitas mulheres terem perdido o medo de denunciar os abusos. A presidente acredita que a impunidade e a demora no julgamento das agressões por parte da Justlça também contribuem para o alto número de vítimas, já que a sensação de impunidade aumenta. 

"A OAB tem atuado para garantir uma rede de atendimento melhor, mas o desafio é enorme. Por exemplo, no caso da advogada agredida no bar, o agressor foi autuado por lesão corporal, quando deveria ter sido pela Lei Marinha da Penha. Resultado: ele encontra-se livre. Sabemos também do preconceito que a mulher se depara nessas delegacias que não são especializadas. Muitas vezes os policiais querem saber o motivo que a mulher deu para ser agredida. A sociedade de Alagoas ainda é muito machista e vemos isso representado em vários casos", colocou Eloina Braz.

Para a presidente da comissão, só com investimento em capacitação dos profissionais, em mais educação, estruturas adequadas para assistência e, sobretudo, a devida responsabilização dos agressores será possível mudar o quadro atual. Por sua vez, a Secretaria de Estado da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos (Semudh) garantiu que vem realizando ações no sentido de reforçar a rede de proteção da mulher, ofertando ainda toda a assistência necessária. 

Por: Gazeta Web 

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