DIETA COM POUCO SAL REDUZIU O USO DE MEDICAMENTOS POR PACIENTES RENAIS CRÔNICOS (GN - SAÚDE)

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Uma pesquisa conduzida em duas universidade americanas mostrou que restringir o consumo de sódio – um dos elementos que compõem o sal de cozinha – pode fazer baixar a pressão arterial em pacientes renais crônicos. 


Em alguns casos, a queda na pressão foi suficiente a ponto de permitir que parte dos pacientes reduzisse também o uso de remédios para hipertensão. “Nós já sabíamos que dietas com pouco sódio faziam bem para pessoas com hipertensão na população em geral”, disse Rajiv Saran, professor do departamento de epidemiologia e nefrologia da Universidade de Michigan e líder do estudo. “Mas queríamos mensurar os benefícios dessas dietas para pacientes com problemas renais, que costumam ser mais sensíveis aos efeitos do sódio.” 

O estudo, do qual participaram 58 pacientes, foi publicado na última quinta-feira (16) no periódico da Sociedade Americana de Nefrologia. A pesquisa de Saran partiu da premissa de que existe uma relação próxima entre consumo de sódio em excesso, pressão arterial elevada e danos aos rins. Em quantidades adequadas, o sódio é um elemento essencial à vida. Mas o consumo diário superior a 2 gramas pode contribuir para a retenção de líquidos no corpo e para o espessamento das paredes dos vasos sanguíneos, o que pode fazer subir a pressão arterial. Pressão alta por períodos prolongados tem efeito deletério sobre órgãos como o coração e os rins: “Aos poucos, ela lesa os vasos que percorrem os rins e destrói o tecido renal”, diz Marcelo Mazza, diretor científico da Sociedade Brasileira de Nefrologia. 

“Isso pode levar à insuficiência renal.” Rins lesionados têm maior dificuldade para filtrar o sangue e mantêm o sódio no organismo. A pressão aumenta e os danos renais se aprofundam. Controlar a pressão arterial em pacientes renais é importante para evitar o prolongamento desse ciclo vicioso. É essa a estratégia adotada pelos médicos ao tratar pacientes com quadro já adiantado, para os quais novos danos aos rins podem significar a necessidade de fazer hemodiálise. Era o caso dos participantes do estudo. Durante dois meses e meio, os pacientes de Saran alternaram suas dietas habituais com dietas com menos de 2 gramas de sódio por dia. Era pouco sal – menos que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Justamente por isso, os pesquisadores temiam que o experimento falhasse: no geral, consumimos mais que o dobro da quantidade de sódio tida como saudável. 

No Brasil, o consumo ultrapassa 4 gramas. “É uma questão cultural. As pessoas aprenderam a comer sal em excesso”, diz Mazza. “Nos Estados Unidos, isso é ainda pior, por causa da quantidade de alimentos processados na dieta do americano.” Para driblar essa dificuldade, Saran tentou desenhar dietas individualizadas, baseadas nos hábitos de cada paciente. “Pedimos aos nutricionistaque perguntassem o que cada um comia em cada refeição. E eles foram ensinados a fazer substituições que agradassem ao paladar”, afirma Saran. “Também aconselhamos a eles que não fizessem refeições fora de casa, onde não poderiam controlar o preparo do alimento.” Durante o mês em que consumiram pouco sal, os pacientes receberam ligações dos nutricionistas a cada duas semanas, com conselhos pensados para motivá-los. 

O tempo todo, levaram na cintura um equipamento que monitorava variações na pressão arterial. Os resultados surpreenderam os pesquisadores: 79% dos pacientes conseguiram reduzir o consumo do sódio simplesmente seguindo os conselhos dos nutricionistas. Isso teve efeitos para a saúde. Após um mês de dieta restritiva, os participantes haviam perdido, em média, 2 quilos – reflexo da redução no acúmulo de líquidos. A pressão sistólica diminuíra, em média, 11 mmHg (11 milímetros de mercúrio). Foi um avanço significativo: em indivíduos saudáveis, a pressão sistólica normal costuma ficar abaixo dos 120 mmHg. Nos hipertensos, ela pode ultrapassar 140 mmHg. A ideia, no caso dos pacientes renais, é manter a pressão tão próximo do normal quanto possível. “Mesmo reduções mais modestas, de 3 mmHg já trazem benefício”, diz Mazza, médico brasileiro que não participou do estudo. “Imagine 11mmHg.”

Por: Voz da Bahia

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