INFECTOLOGISTA FAZ ALERTA: 'PESSOAS ESTÃO PERDENDO MEDO DA AIDS' (GN - SAÚDE)

Fernando Maia fala em avanço nas notificações da doença em Alagoas e reforça necessidade de prevenção e os números de registros estão em ascensão (Foto: Sandro Lima / Arquivo)


“Nós estamos vivendo uma época em que os números estão em ascensão, em cinco meses já houve um número expressivo de atendimentos e pela previsão vai superar o ano passado.” É de modo enfático que o infectologista do Hospital Helvio Auto, Fernando Maia, alerta a população sobre o avanço de registros de contágio de HIV/Aids em Alagoas.


Dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau)mostram que em 2017 já foram registradas 226 infecções por HIV, são quase duas notificações por dia nos primeiros meses deste ano. Os casos de Aids chegam a 88. Ao todo, no ano passado, foram 703 contaminações registradas de HIV, além de 327 notificações por Aids.

Segundo Fernando Maia, três fatores são preponderantes para o aumento dos registros.  O primeiro e mais preocupante é que as pessoas têm se adaptado ao risco de contágio por confiarem demais no tratamento. O aumento no número de diagnósticos e a falta de prevenção também são cruciais para a evolução dos números.

“Um dos fatores, que com certeza interfere, é que as pessoas estão perdendo o medo da Aids. Por conta do tratamento que é bem sucedido, que apesar de não curar, controla bem o HIV, as pessoas estão perdendo o medo e se expondo ao risco desnecessariamente, infelizmente. Tenho visto muito casos assim. As pessoas estão se expondo muito ao risco. Têm muitos casos novos, apesar das campanhas educativas.”

A prevenção tem que ser encarada como crucial. O comportamento de risco é classificado pelo médico como prejudicial.

“A prevenção se baseia em dois pilares: Por meio do preservativo. Se você vai ter uma relação sexual com alguém que você não sabe se está contaminado ou não, deve usar preservativo sempre. A segunda medida é reduzir o número de parceiros. Quanto mais parceiros sexuais, pior. Para se ter uma ideia, a Organização Mundial de Saúde (OMS)  classifica como comportamento promíscuo quando o indivíduo tem mais de dois parceiros por ano. Tem gente que tem dois por fim de semana, às vezes mais. Tem gente que faz aposta com amigo para ver quem fica com mais”, explica.

O aumento de registros pode estar relacionado também, diz o infectologista, por uma medida adotada pelos órgãos de saúde nos níveis federal, estadual e municipal.

“As Secretarias de Saúde Estadual e Municipais têm feito campanhas de testagem em locais públicos, em festas para ver se a gente aumenta o número de pessoas que descobrem o diagnóstico para começar a tratar. Porque para a gente conseguir controlar a epidemia, existe um projeto de controle que diz que precisamos atingir o maior número possível de pessoas contaminadas para poder tratá-las e atingir a cadeia de transmissão”.

Por isso, o infectologista ressalta que não é possível afirmar categoricamente se o aumento dos casos é pelo aprofundamento dos diagnósticos ou propriamente por novos contágios. No entanto, Maia diz que é preciso reforçar a preocupação com a doença.

“Nós estamos descobrindo casos novos. Não dá para dizer com certeza se o número de casos está aumentando ou se estabilizou e a gente está descobrindo casos que não descobria antes, mas o fato é que o número está aumentando. A Aids é uma doença silenciosa. Nos primeiros anos de infecção, se a pessoa não souber que está contaminada, vai disseminando a doença porque vai tendo relações sem preservativo”, acrescenta.

Alagoas tem atualmente 5.052 pacientes em tratamento nas unidades de referência Pam Salgadinho, Hospital Helvio Auto e Hospital Universitário, todas em Maceió. Pacientes do interior são direcionados para a capital para a realização do tratamento.

“Como é uma doença de infecção predominantemente sexual, acomete todos os setores, não existe uma ‘área de risco’, o que existe é um comportamento de risco. Quando a pessoa tem um parceiro que não sabe a condição sorológica dele e se relaciona sem preservativo, isso é um comportamento de risco”, afirma.

Mesmo com o trabalho de prevenção, o infectologista explica que medidas emergenciais precisam ser adotadas de imediato, como a identificação de contágio e o tratamento, para a diminuição da transmissão do vírus.

A orientação para pessoas que suspeitarem de um possível contágio é fazer o teste para detecção da doença.

“Qualquer médico pode solicitar ou a pessoa pode procurar um dos serviços em Maceió que fazem o teste gratuitamente sem precisar de encaminhamento médico. É só chegar lá e pedir: Quero fazer o teste para HIV. A recomendação é esta: Se teve comportamento de risco, faça o teste. Quanto mais cedo faz o teste, mais cedo descobre a doença”.

Evellyn Pimentel / Tribuna Independente

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