DELAÇÕES DA ODEBRECHT - EX-GOVERNADOR DE ALAGOAS TEOTÔNIO VILELA ORGANIZAVA FRAUDE EM LICITAÇÕES DO CANAL DO SERTÃO, SEGUNDO DELATORES (GN - ALAGOAS E BRASIL)

Depoimentos relatam que esquema fraudulento de acordo de mercado regia licitações de obra pública em Alagoas. Ex-governador nega ter autorizado favores/Teotonio Vilela governou o estado por dois mandatos consecutivos (Foto: Waldson Costa/G1).


Em um dos Termos de Colaboração das investigações da Operação Lava Jato, o ex-executivo da Odebrecht, João Pacífico, disse que a equipe do ex-governador de Alagoas, Teotonio Vilela Filho (PSDB), atuava diretamente no esquema de corrupção que envolvia o desvio de recursos a partir de contratos de obras públicas.


O ex-governador Teotonio Vilela, por meio de nota, negou ter negociado ou autorizado favores.

Segundo o delator Pacífico, Vilela sabia do esquema de propina e do processo que organizava e distribuia os lotes das obras do Canal do Sertão entre as empresas antes mesmo da realização do processo de licitação, promovendo um 'acordo de mercado' entre o governo e as empresas Odebrecht, OAS e Queiroz Galvão.

"Soubemos da obra do Canal do Sertão pela imprensa e quando chegamos já havia outras empresas fazendo estudos no local. Todas apresentaram propostas para obra, mas era o governo do Estado que coordenava a divisão. Então ele dizia olha, esse lote aqui é da OAS, esse lote aqui vai ser da Odebrecht. Aquele lote, você não atrapalhe não, porque o seu vai ser esse aqui. Eles faziam essa coordenação", explica Pacífico.

Pacífico ainda relata o pagamento de R$ 2,1 milhões em 2014 para Vilela. O valor seria para destravar pagamentos de obra do canal do sertão. Segundo o depoimento, o recurso seria usado para a campanha do candidato Júlio César (PSDB), sucessor do partido e que ficou em 3º lugar na disputa.

O delator conta que na negociação do dinheiro foi cobrado pagamento de 5%, mas que negociou 2,5%. “Assessores de Vilela disseram que isso foi acertado no passado e ele confirmou que não tinham sido. mas foi convencido a ceder”, diz.

O ex-executivo diz que Vilela saia da sala no momento que o assunto era mais explícito nas conversas. “E aí nessa reunião, de novo o governador fez um apelo, 'olha, é importante que vocês continuem aqui, sua empresa atua aqui ha tantos anos, sou amigo do fulano, beltrano, siclano’. E aí disse ‘olha: resolva aí, Pacífico, veja a forma’, mas não entrou em detalhe, não falou em nada. Olha, me daí 20 minutos, eu faço a abertura e você me chama”, disso o relator contando que o então governador se retirou de novo da sala.

Em outro momento do depoimento prestado ao Ministério Público, outro diretor de contrato Odebrecht, Ariel Parente, falou que mediante as negociações anteriores em 2009 foi firmado uma acordo de mercado para obras do Canal do Sertão entre as construtoras. E como a Queiroz Galvão foi resistente em aceitar, foi o governo de Alagoas que pressionou a empresa para 'firma' o acordo.

"Quando cheguei para negociar o contrato fui que havia um acordo de mercado entre a OAS e a Odebrecht. Mas, até a data da licitação nós tínhamos conhecimento que a Queiroz Galvão estava resistente. Porém, o governo do Estado, através do secretário Marcos, estava pressionando a Queiroz Galvão para aceitar o acordo com a promessa de ser contemplada no lote 05 posteriormente", expôs Parente.

Diante das negociações os delatores disseram que os lotes foram previamente divididos entre as construtoras.

O delator também falou sobre suposto pedido de pagamento de propina que teria sido feito pelo então superintendente de projetos especiais da Secretaria de Infraestrutura de Alagoas, Ricardo Aragão. Ariel diz que Aragão pediu o dinheiro duas vezes e, nas duas, a solicitação foi negada.

Segundo Ariel, após a decisão da comissão de licitação, faltava homologar o resultado da licitação. Ele disse que houve uma reunião em um hotel em Maceió entre ele e Zé Nogueira, representando a Oldebrecht, com Ricardo Aragão.

“Me lembro que era ele só fazendo solicitação de pagamento. Acho que era para homologar a licitação. Só fazia a homologação da licitação se recebesse. Se tivesse um acordo pro recebimento de um determinado percentual sobre o valor da obra que eu não me recordo mas me recordo que ele queria receber o valor antecipado”

O delator disse que a negociação continuou em 2013, quando a obra foi iniciada. “Acho que, em meados de 2013, eu fui novamente procurado por Ricardo Aragão no escritório da Odebrecht no Recife. E onde foi novamente conversado sobre o valor que ele ia receber sobre os valores recebidos pela Odebrecht. Novamente foi negado até porque, as vezes, a gente tem que aceitar porque quando não aceita, a obra não anda. Mas ele já não tinha mais influência no assunto. Novamente foi rejeitado, não aceitei e não fiz nenhum pagamento a ele”.

Negociação de cláusulas e acordos

Em outro depoimento o diretor da Odebrecht no Nordeste, Fabiano Munhoz, confirmou as informações repassadas pelos outros dois delatores sobre a divisão de lotes entre a Odebrecht e OAS expondo que o acordo de mercado foi feito com a nuencia do governo do Estado.

Segundo Munhoz, à época foi realizado encontros com o superintendente de Projetos Especiais da Secretaria de Infraestrutura de Alagoas (Seinfra), Ricado Aragão, para negociar cláusulas nos editais e dificultar a entrada de concorrentes.

Na ocasião, foram feitas propostas de cobertura acordadas onde uma empresa sempre apresentava proposta mais alta para assegurar que a outra vencesse. Fazendo com que cada uma das envolvidas vencesse um dos lotes.

Ainda por meio de nota, o ex-governador Teotonio Vilela disse que nunca compactuou ou negociou favores, assim como nunca autorizou quem quer que seja a fazê-lo em seu nome. "Confio nas investigações e sei que elas comprovarão que não tenho participação em ilicitudes. Estou à disposição das autoridades para os esclarecimentos que me forem solicitados", diz.

Por: G1

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