A POLÊMICA DAS PELÍCULAS NOS VIDROS DOS CARROS: OS PONTOS A FAVOR E CONTRA (GN - CURIOSIDADES)

© Mauro Sousa


As películas automotivas, que escurecem os vidros, são acessórios antigos no mercado. Ainda hoje, porém, elas são alvo de polêmica. Até aqui na redação da QUATRO RODAS as opiniões se dividem.


O editor Péricles Malheiros é um dos que defendem com veemência o uso das películas. Para ele, o filme dos vidros representa proteção contra a violência urbana. Eu não lhe tiro a razão, mas prefiro os vidros com a transparência original de fábrica. E o meu motivo também é segurança, mas ao volante.

Quando dirijo os carros de teste que possuem películas tenho muita dificuldade de enxergar à noite. Mas esse nem é o meu argumento principal. Sou contra porque as películas dificultam observar as intenções dos outros. Quando um motorista olha para o lado a chance de fazer uma conversão é grande, mesmo que ele não sinalize essa manobra.

De tempos em tempos o assunto vem à tona e nós, eu e o Péricles e os outros motoristas da redação, repetimos os mesmos argumentos sem mudança de posições. É pior que discutir o futebol. Além dos aspectos da segurança, há também o problema da aparência, que também divide opiniões. Existem os que acham que as películas embelezam os carros e os que julgam o contrário. Mas essa é uma questão de gosto e gosto não se discute.

Pensando em aprofundar o tema da segurança resolvi ouvir profissionais que lidam com segurança nos aspectos pessoal, patrimonial e viário. Consultei o piloto Roberto Manzini, diretor do Centro Pilotagem Roberto Manzini, especializado em direção defensiva e pilotagem esportiva e o coronel da reserva da Polícia Militar, José Vicente da Silva, professor e consultor de segurança pública.

Procurei também duas seguradoras que preferiram ficar fora do debate. Queria saber como as seguradoras viam esse acessório. Se as películas são aliadas das empresas, contribuindo para diminuir as ocorrências de furto, roubo, etc. Se, ao contrário, elas promoveriam os sinistros de acidentes, como colisões e atropelamentos. Ou ainda, se o efeito delas seria inócuo.

Mas a Sulamérica disse que “entende que cabe ao cliente decidir sobre o uso das películas automotivas, desde que sejam respeitadas as disposições legais para tal uso”. E a Porto Seguro respondeu: “não vamos conseguir ajudá-lo com a pauta desta vez”.

Como instrutor de direção defensiva, Manzini diz que recomenda o uso de películas do tipo translúcidas, que diminuem a incidência solar e a temperatura interna, combatendo o ofuscamento pelo sol e melhorando o conforto a bordo. As demais ele reprova, mesmo as mais claras que se enquadram nos limites legais.

A Resolução número 254 de 2007, do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), estabelece que a transmissão luminosa não poderá ser inferior a 75%, para vidros incolores, e a 70%, para vidros coloridos (os verdes são os mais comuns), do para-brisas e das laterais nas portas dianteiras. E que a transparência não poderá ser inferior a 28% no vidros laterais traseiros e no traseiro.

“Um dos princípios da segurança no trânsito é ver e ser visto”, afirma o piloto. E, segundo ele, as películas prejudicam a visibilidade principalmente à noite e na chuva, momentos em que aumenta o risco do motorista não perceber ou ter uma percepção enganosa das situações, como nos cruzamentos. “Quanto mais escuro, pior”.

O coronel Silva vê benefícios nas películas porque, segundo ele, os criminosos de modo geral têm uma perspectiva muito racional de seus planos pesando sempre os custos e os benefícios das ações. E, nesse sentido, um carro com filme escuro é menos atraente pela dificuldade que oferece ao marginal de enxergar quem está ao volante e se essa pessoa pode reagir à abordagem.

Silva lembra, porém, que existem ocasiões em que as películas podem favorecer o bandido, ajudando-o a se esconder no banco detrás do carro, enquanto a vítima dirige. Nesses casos, as películas dificultam o trabalho da polícia. Além disso, de acordo com Silva, quando os policiais abordam um carro filmado à noite, eles o fazem com muito mais cuidado, por não enxergar quem e quantas pessoas estão no veículo.

“A vantagem (das películas) existe mas é mínima”, afirma o coronel. “E não adianta colocar a película se a pessoa não tomar outros cuidados básicos como evitar locais de risco e escolher os lugares onde estaciona o veículo”. O comportamento das vitimas potenciais também é um fator avaliado pelos criminosos.

Pelo depoimento dos especialistas, chega-se à conclusão que as películas têm mais aspectos contrários do que a favor. Mas, como afirma a Sulamérica, cada um deve decidir o que fazer sobre seu uso. Melhor mesmo seria se a aplicação das películas fosse necessárias apenas por razões estéticas, ou para bloquear os raios solares e nada mais.

Por: Quatro Rodas

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